Expulsão de pobres na Mooca e V. Prudente mantém caos urbano de São Paulo

Favela de Vila Prudente, mais antiga de São Paulo, e moradias populares na Mooca viraram notícia nesta semana

Evaniza Rodrigues Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 17 de Junho de 2021 às 16:23

Proposta de um “puxadinho” do Monotrilho ameaça os moradores da favela de Vila Prudente, a mais antiga de São Paulo – Wikimedia

Nesta semana, duas notícias preocupantes cruzaram os bairros vizinhos Mooca e Vila Prudente: uma reação de moradores da Mooca contra a construção de moradias populares no bairro e a ameaça de remoção de parte da favela de Vila Prudente pela extensão da Linha 15 do Metrô.

A Revista Veja São Paulo publicou, em 10 de junho, matéria em que moradores estariam reclamando da implementação que um projeto da Parceria Público-Privada Habitacional da Prefeitura de São Paulo, trariam “favelados”(sic) e desvalorizariam os imóveis do entorno.

“Por que não fazer moradia nas periferias?” diz um morador no artigo, sem um pingo de empatia. Cabe dizer, que os movimentos populares têm criticado as PPPs justamente por não atenderem os mais pobres, que compõem a maior parte do déficit habitacional e por destinar terrenos públicos para incorporadoras lucrarem na região.

Parte dos que se posicionaram contra as moradias populares alega que uma fração dos terrenos abriga uma horta e que a região carece de áreas verdes. A cerca de 3 km do local, existe o antigo terreno da Esso, que é objeto da luta por um parque municipal há mais de 10 anos. Por que não juntar as forças?

Vila Prudente

Já na Vila Prudente, um cálculo mal feito no projeto de interligação entre as linhas Prata e Verde do metrô com a linha Turquesa da CPTM e a proposta de um “puxadinho” do Monotrilho ameaça os moradores da favela de Vila Prudente, a mais antiga de São Paulo. Não bastasse anos de descaso convivendo com as enchentes e a falta de urbanização, agora, os moradores são vistos como obstáculo a ser removido.

A população de rua nessa região já sabe disso há muito tempo. Enxotados das frentes dos prédios residenciais e dos comércios, criminalizados pela polícia e com aqueles que os apoiam perseguidos, ironicamente, paga-se um preço muito alto para viver nas ruas.

Ironia em dose cavalar, em um bairro cuja fama é de ter sido formado por imigrantes, assim como meus bisavós, vieram para cá pelos mesmos motivos que migrantes internos e externos o fazem agora: um lugar melhor para criar suas famílias.

Cidade que queremos

Essas situações nos colocam questões fundamentais para discutir a cidade que estamos construindo: o tal progresso justificando a expulsão dos mais pobres; a valorização imobiliária acima do direito à moradia; a privatização do que é público para o lucro de poucos. Para os que ainda não entenderam, este modelo tem sido implementado há mais de 100 anos em São Paulo e foi justamente ele que nos levou ao caos urbano em que vivemos.

Queria muito poder conversar sobre isso com os meus vizinhos. Queria sentar, pós pandemia, com um cafezinho passado na hora, para falarmos sobre um projeto de cidade onde exista lugar para todas e todos. Onde nos juntássemos para exigir que as autoridades respeitassem a todos, cumprissem com suas obrigações com a população. Onde a solidariedade e a empatia pudessem ser o prato do dia, em uma grande festa de rua, com fogazza, baião de dois, fufu e empanadas.

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