Justiça deixa mais de 170 famílias sem moradia em Ubatuba
Ao som de helicópteros, viaturas da Policia Militar, Policia Ambiental, Defesa Civil e máquinas de operação, os moradores do Morro do Fórum de Ubatuba foram removidos na manhã da última terça-feira, (28), após a Defesa Civil alegar que a área é de alto risco à integridade física. A decisão tomada pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, Cristiano Zanin, deixou mais de 170 famílias sem casa e auxílio. Porém, em uma área vizinha, desponta a construção do condomínio de veraneio de alto padrão, o que deixou os sem-teto e os movimentos de moradia desconfiados da real intenção da remoção das famílias que ocupavam o terreno.
O Tribunal de Justiça de São Paulo e a 3ª Vara Cível do Foro de Ubatuba-SP, sancionados pelo Supremo Tribunal Federal, autorizam a ordem de remoção dos moradores do Morro do Fórum, após Defesa Civil decretar a região como área de alto risco à integridade física, devido ao deslizamento de terra que ocorreu em fevereiro em Ubatuba. A decisão deixa 173 famílias sem casa às vésperas do Natal.
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“Os órgãos do judiciário foram muito ágeis na sua decisão de despejar as famílias, mas, um fato estranho nos chama atenção, o Morro do Fórum fica encostado no Fórum de Ubatuba e tem máquinas movimentando toneladas de terra e cortando a base do Morro do Fórum para construir um condomínio de veraneio para renda média e alta.”, conta o advogado do Centro Gaspar Garcia dos Direitos Humanos e coordenador da União Nacional dos Movimentos de Moradia, Benedito Roberto Barbosa. “O Juiz conseguiu ver o risco no Morro do Fórum, mas não enxergou o mesmo risco na construção do condomínio”, completa.
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Considerada uma região de alto risco à integridade física, o Morro do Fórum é só mais uma área que passou a receber o argumento de “risco e proteção à vida de famílias”, em casos de despejo. A decisão têm sido constante, desde que os megaeventos começaram acontecer com frequência no Brasil, como conta o advogado Benedito Roberto Barbosa: “Dos Jogos Panamericanos (2007), a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016), e os despejos cresceram e ficaram ainda mais forte depois a que ADPF 828/21 do Supremo Tribunal Federal, excluiu o risco da proteção das salvaguardas de garantia ao direito imediato à moradia, em casos de despejo. Ao meu ver, foi um erro trágico do STF, pois a decisão traz consequências muito duras para as famílias atingidas”.
Direito à moradia
Nos últimos anos, somente no estado de São Paulo, 7.376 famílias foram despejadas, segundo um levantamento realizado pela campanha Despejo Zero. A falta de políticas públicas habitacionais influenciam no resultado desse número, uma vez que o Estado não possui ações que assegurem o direito constitucional à moradia.
Em tramitação na Câmara dos Deputados desde dezembro de 2021, o Projeto de Lei da Autogestão da Habitação propõe diretrizes para a produção de moradia por autogestão, além de oferecer uma produção mais barata e democrática para o nosso país e estimular o associativismo e o cooperativismo. Habitação por autogestão é uma experiência que já demonstrou enorme sucesso e pode assegurar moradia para a população de baixa renda.
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