Bairro alagado nas margens do Rio Tietê foi erguido com o auxilio da prefeitura
O bairro do Jd Helena (distrito que abrange toda a área afetada pela enchente no estremo leste de São Paulo) foi povoado após implantação da Industria Nitro Quimica na região, por volta da década de 1930. Os primeiros lotes foram vendidos para os trabalhadores da fabrica onde é hoje o Parque Paulistano.
Desde então, com a vinda de novas industrias para a região, como a Papeloque, Induza, Grupo Votarantim entre outras foi se expandindo os loteamentos naquela faixa de terra que se limitava com antiga Estrada São Paulo Rio (atual avenida Marechal Tito) ao sul e o leito do Rio Tietê ao norte.
Na década de 1960, a cidade crescia e chegaram migrantes de toda parte, inclusive da região nordeste do país, que vinham em busca de emprego, farto nas proximidades da Zona Leste de São Paulo, pois quem não conseguia emprego na própria zona leste, podia conseguir emprego nas industrias das cidades vizinhas como o ABC, Guarulhos e Itaquaquecetuba.
Nos anos 60?s iniciam novos loteamentos na região, as facilidades oferecidas pelas especuladoras/grileiras imobiliárias (Continental, Andrades e Miragaias) eram um grande atrativo para os recém chegados. Com isso foram surgindo as vilas: Vila Mara, Jardim Maia, Vila Seabra, Vila Itaim, Jd. São Martinho, Jardim Romano, Vila Aymoré, Jd. Noemia, etc.
As vendas de lotes na região teve ápice na década de 1980, quando a Imobiliária Continental anunciava no Programa Eli Correa da Radio Capital vendas de lotes a preço muito baixo, que poderiam ser quitados em até 120 meses, sem entrada, sem comprovação de renda, apenas apresentar documentos e um fiador já podia iniciar a construção da casa no dia seguinte. Com isso foram chegando mais gente e assim se formaram as ultimas vilas, que formam o Pantanal.
Aquelas famílias que não tinham condições de comprar seu lote também chegavam. Na década de 1990, na gestão Maluf por conta da obra da avenida Jacu Pessego foram despejadas centenas de famílias, sem indenização que possibilitasse a aquisição de nova moradia os moradores desalojados começaram a ocupar os lotes vazios nesta região. A família Miragaia (grileiros de varias áreas na zona leste) despeja cerca de 400 famílias do Jd. Miragaia, essas famílias também se somam com as outras e iniciam a onda de ocupação, que dura até os dias de hoje. Há também nesta época uma crise econômica no país (época do plano Collor) e a população não perdia apenas o emprego. Sem condições para pagar aluguel eram obrigados a construir suas casas as margens do Rio Tietê, num lugar onde a prefeitura não iria incomodar e que já estava preparado para receber novas habitações, já que a própria prefeitura em conluio com as imobiliárias/grileiros estava aterrando as margens do rio, brejos e lagoas, enfim preparando o terreno para lotear. Essas famílias não podiam ir para muito longe, mesmo sendo escasso, ainda a capital era o único lugar que podia oferece-lhes emprego, educação, acesso aos serviços de saúde e condições mínimas de se manterem vivos.
Brejos e lagoas deram lugar a esse aglomerado de residência que existe hoje. E tudo acontecia com o aval e participação da prefeitura da cidade de São Paulo. Nas gestões de Paulo Maluf e o finado Celso Pitta a região recebia cerca de 100 caminhões diários de entulho, terra e lixo, jogados ali pela prefeitura ou com autorização (oficiosa) dela. Favorecendo o avanço imobiliário e, lógico a ocupação da área.
As primeiras enchentes que temos noticia na região foram ainda nos anos 60, meus pais recém chegados do nordeste adquiriram um terreno no Jd. Noêmia e ali construíram moradia, chegou o verão e o sonho de ter a casa própria, depois de ter morado em diversos cortiços da zona norte paulistana, se transforma num grande pesadelo. O Rio Tiete transbordou e o níveo da água chega a quase dois metros dentro de casa. Em outras moradias restavam apenas o telhado acima da água. Naquele tempo o rio ainda era habitado por peixes e a água não estava tão poluída como hoje.
No fim dos anos 80?s e até os fim da década de 1990 as chuvas de cada verão castigaram os moradores. As cheias dos anos 1995 e 1997 foram as piores desde a cheia de 1969. Varias casas ficaram totalmente submersas nas águas podres do Rio Tietê. Nos hospitais varias entradas diagnosticadas como cólera e leptospirose. Varias mortes por afogamento e ou decorrentes das doenças que se alastravam entre os afetados. Nesta época a prefeitura fez um aterro com terra e entulho na margem do rio e dos córregos, canalizaram alguns córregos (um exemplo do descaso da prefeitura com o meio ambiente foi canalizar o Córrego Água Vermelha na Vila Mara) da região, para ajudar a conter a água no leito do rio. Mesmo assim, sempre que chega a época das chuvas as ruas e casas ficavam alagadas. Não tinha obra que desse jeito.
A Sabesp implanta na região uma estação para bombear o esgoto domestico, pois todo o bairro não contava com saneamento e os esgoto corria a céu aberto, em valetas nas laterais das ruas e vielas. Essas valetas estavam sempre cheias de água. Ao amanhecer podia ver correndo por essas valetas água limpa, pois vinham de minúsculas nascentes, vistas em varias parte do bairro. Ainda hoje, atrás do Supermercado D?Avó da Avenida Marechal Tito corre um pouco de água limpa e podemos ver os guaru nadando entre embalagens plásticas e pedaços de madeira velha. Em qualquer lugar que se cava, tem água com no máximo 1 metro de profundidade. Em alguns quintais ainda brota da terra água mineral. No Jd. Noemia, quem vai construir encontra na cavação da fundação da obra logo abaixo do aterro de entulho e terra restos das taboas e aguapés que davam nos brejos e lagoas.
Chega o asfalto e esgoto encanado em algumas vilas. Aquelas valetas que serviam para escoar a água da chuva não existe mais e o solo que já não dava conta de absorver a água foi impermeabilizado com o asfalto e cimentado dos quintais. Esse agravante da impermeabilização do solo, somado com as obras irregulares de aterro da margem do rio e dos córregos, canalização de córregos e o não funcionamento (proposital) no sistema de bombeamento do esgoto resultou nessa enchente, que mesmo sem chuva e o nível do rio normalizado permanece por vários dias, mantendo moradores desabrigados, crianças sem escola, pessoas adoecendo e a população revoltada.
Ano passado a prefeitura inicia novas obras na região, o restante de valetas que ainda ajudava no escoamento da água foram tampadas com terra, levantaram ainda mais o barranco na margem do Rio Tietê e asfaltaram mais ruas e no início deste ano o Governador anuncia a implantação do Parque Linear Várzeas do Tiete.
A conclusão que temos disso tudo é que foi tudo muito bem planejado pelos governos estadual e municipal. Primeiro foi destruído a área, com o aterro das varias lagoas e brejos. Constrói a Avenida que liga o aeroporto de Cumbica ao ABC. Constroi novas estações de trem no bairro (Jd Helana/Vila Mara, Itaim Paulista e Jd Romano), despejam moradores, demolem as habitações de pobres, implantam o parque, com uma avenida que liga o centro da capital com as cidades do alto-tiete, facilitando o acesso as praias do litoral, obras que valorizam a região, constroem prédios e condomínios de luxo. Tudo fica lindo e maravilhoso e as enchentes não aparecerão nem nos livros de história, já que até as editoras são dominadas pela elite. Fica tudo no esquecimento.
É EVIDENTE O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA ZONA LESTE: LIMPEZA URBANA/HIGIENISMO/EUGENISMO. ESTAO TIRANDO OS POBRES DAQUI E EMPURANDO PARA FORA/LONGE DA CAPITAL.
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