Um Novo Marco Regulatório das Comunicações também muda a vida das Mulheres

Não é muito difícil problematizar o espaço que a mulher ocupa nos meios de comunicação. Na maior parte dos casos a mulher é tratada como mercadoria, em inúmeras propagandas seu papel é banalizado. Tal como em outras esferas da vida e da sociedade os meios de comunicação são responsáveis por reproduzir o modelo de dominação e opressão da mulher. Mas qual o efeito disso sobre a vida prática, o dia-a-dia das mulheres e das pessoas?

É comum vermos em propagandas de cervejas a exposição dos corpos das mulheres como meio para a venda do produto, ou mesmo em propagandas de sabonetes e de lingeries. Mas afinal o que se quer vender, é o produto ou a mulher?

Quero relacionar a mercantilização de nossos corpos, expressa em propagandas como essas, à violência contra a mulher, que tem expressão e incentivo também nos meios de comunicação os quais tentam por diversas ocasiões banalizar pautas feministas tão caras. Chamo a atenção para três fatos recentes:

O primeiro, a propaganda do preservativo Prudence chamada “Dieta do Sexo”, onde há uma tabela de quantas calorias se perde fazendo sexo em várias posições. Pasmem! Na relação da dieta consta o número de calorias que um homem perde ao “fazer sexo sem consentimento dela”. O segundo, a propaganda da cerveja nova Schin chamada “homens invisíveis” que coloca homens invisíveis “bolinando” (estuprando mesmo) as mulheres na praia e no vestiário. O terceiro, um vídeo sobre como fazer sexo anal sem consentimento da mulher, postado no blog do Testosterona da MTV. Isso para não falarmos da transmissão ao vivo em rede nacional de estupro de uma vulnerável num reality show.

Em todos esses casos o estupro, isso mesmo, ESTUPRO é tratado com banalidade, como nada sério, e muitas vezes em tom de comédia. ESTUPRO é crime, incitação e apologia de estupro TAMBÉM!

De algum tempo existe uma tentativa de amenizar casos como esse, do tipo criar lei para que a palavra estupro seja trocada pela de “assalto sexual”, ou piadas de stand up em que se diz que mulher feia tem de agradecer por ser estuprada. O resultado é que, tratadas como objetos que se compra ou se toma a força, uma mulher a cada 12 segundos é estuprada no Brasil. Alguém tem dúvidas do quanto os meios de comunicação ajudam a reproduzir essas relações?

O debate acerca de um novo marco regulatório das comunicações e democratização dos mesmos deve incluir necessariamente a dimensão e luta pela mudança da vida das mulheres. Dados da pesquisa da Fundação Perseu Abramo apontam que 74% das mulheres são favoráveis ao controle das propagandas veiculadas na televisão que se utilizam dos corpos de mulheres. A relação entre a “mulher-mercadoria” e “violência contra mulher” é profunda porque se estabelece a partir da relação machista e patriarcal de submissão e opressão das mulheres, um novo marco regulatório só será democrático e possível quando houver entendimento da necessidade de reproduzir um novo modelo de relação em que nós mulheres e nossos corpos sejamos respeitados/as e até que se entenda que sim significa sim e não significa não!

* Patricia Rodrigues é socióloga, feminista, secretária estadual de Juventude da União dos Movimentos de Moradia

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